Faz alguns dias, assisti ao filminho "Enrolados" com meu filho. Gostei muito da nova roupagem dada à história da Rapunzel, a moça trancafiada numa alta torre por uma mulher má, que nunca podia ver o mundo lá fora. A história deste clássico dos irmãos Grimm refeita neste longa metragem me chamou a atenção no teor deixado subentendido por trás dos acontecimentos no enredo.
Primeiramente, Rapunzel é filha de nobres, rei e rainha, amados por todos do reino. Esse traço político, de monarcas bondosos e aceitos e queridos pelo povo, só pode mesmo ser coisa de contos de fadas. Daí, então, vem o problema inicial da trama. Após cair um raio de sol na terra, e nascer uma flor mágica. A senhora que se utilizava desta flor para se manter viva, literalmente, e jovem também, é taxada de egoísta logo no início da narrativa, pois ela não quis dividir a dádiva da flor com os outros habitantes do reino. É aí que começo a discordar da abordagem desta versão. A senhora, num gesto de magia, e humildade perante a Natureza, ia até a montanha, onde havia nascido a flor, para cantar à flor mágica uma canção, sem feri-la ou desrespeitá-la, e assim, o poder que emanava da flor a tornava jovem de novo. Então, é passada para as crianças uma ideia de que devemos compartilhar as coisas boas que temos com as pessoas. Até aí, tudo bem. Porém, quando a rainha, que está grávida, fica doente, o povo, que ama o casal real, e soldados saem em busca da tal flor.
Ao invés de levar rainha, com cama e tudo o mais até a montanha, eles apenas retiram a flor do solo, e, ao invés de plantá-la, fazem com ela um belo de um chá!
Pronto. O que assisti, então, contradisse toda a narrativa anterior, na qual a velhinha era egoísta, por não compartilhar a flor. O que os monarcas fizeram, então, foi um homicídio, pois mataram a flor e, de quebra, privaram a senhora mística dos dons da plantinha. A meu ver, a "moral da história" que fica pairando nas cabecinhas pequenas, é de que, usar em segredo, se você for pobre, algo muito bom, e não dividir, é errado. Mas, os ricos, os que têm tudo, e mesmo às vezes são privados de sua saúde, podem desmatar, matar, e pegar só para si, permanentemente, o que quer que seja, sem que devam ser punidos ou incomodados por isto.
Na história, este é o fato desencadeador para que a senhora roube Rapunzel do castelo, e prive seus pais dela, assim como ela havia sido privada da flor mágica. Porém, o que me chateou é que somente a velhinha fica vilanizada no final da história, e, como em todo bom conto de fadas, ela morre, no final, e a realeza fica viva e feliz para sempre.
Ademais, o desenho é bem divertido para assistir com os pimpolhos. Uma parte que achei muito engraçada foi a da canção sobre se ter um sonho, dentro de uma taverna cheia de homens "valentões", mas que mostram ter uma interior humano e cheio de sonhos na vida! Meu pequeno deu muita risada com as cenas do cavalo e prestou bastante atenção. Um bom entretenimento!
PS: Para mães de meninas, é uma boa opção para se refletir a respeito do sentimento de posse que às vezes é exercido pela mãe e a vontade de liberdade que surge na (pré) adolescência das pequenas!
PS: Para mães de meninas, é uma boa opção para se refletir a respeito do sentimento de posse que às vezes é exercido pela mãe e a vontade de liberdade que surge na (pré) adolescência das pequenas!